quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

TRÊS CONSELHOS.

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de
favores  num sítio do interior. Um dia, o marido fez a seguinte 
proposta à esposa:
— Querida, vou sair de casa e viajar para bem longe, arrumar um 
emprego  e trabalhar até que tenha condições de voltar e dar-lhe 
uma vida mais  digna e confortável.
Não sei quanto tempo ficarei distante de casa. 
Só lhe peço uma coisa: Espere-me! Enquanto estiver fora, seja-me  
fiel, que o serei a você.
Assim sendo, o jovem partiu. Andou muitos dias a pé, até que 
encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para 
ajudá-lo
 em sua fazenda. Ofereceu-se para trabalhar e foi aceito,
 mas não
 sem antes propor o seguinte pacto ao seu empregador:
— Patrão, peço-lhe só uma coisa: Deixe-me trabalhar pelo 
tempo 
que quiser e, quando achar que devo ir embora, dispensa-me 
das minhas
 obrigações. Não quero receber meu salário. Só lhe peço que 
o coloque
 na poupança até o dia em que for embora. Quando sair, recebo
 meu 
dinheiro e sigo meu caminho.
Tudo combinado, o jovem trabalhou por vinte anos, sem 
férias 
nem descanso. Após esse tempo, chegou para o patrão e
 cobrou-lhe
 o contrato feito há vinte anos:
— Quero meu dinheiro, pois estou voltando para minha 
casa.
O patrão, então, disse-lhe:
— Tudo bem, fizemos um acordo e vou cumpri-lo, só que,
 antes, 
quero fazer-lhe uma proposta: pode escolher entre receber
 todo
 o seu dinheiro ou aceitar três conselhos meus e ir embora. 
Vá para seu quarto, pense durante a noite e depois me 
responda.
O rapaz pensou durante dois dias. Procurou o patrão e 
disse-lhe:
— Quero os três conselhos.
O patrão, então, falou-lhe:
— Primeiro: Nunca tome atalhos em sua vida. Caminhos 
mais curtos 
e desconhecidos podem custar sua vida.
— Segundo: Não seja curioso para aquilo que é mal, 
pois a curiosidade
 poderá ser-lhe mortal.
— Terceiro: Jamais tome decisões em momentos de ódio 
e de dor. 
Poderá arrepender-se e ser tarde demais.
Após dar-lhe os três conselhos, o patrão disse-lhe:
— Rapaz, aqui tem três pães, dois para comer durante 
a viagem 
e o terceiro para comer com sua esposa, quando chegar 
a casa.
Assim, o rapaz partiu, deixando a fazenda, depois de 
vinte anos 
longe de casa e da esposa que tanto amava. Andou durante 
o primeiro
 dia e encontrou um viajante, que lhe perguntou:
— Para onde vai?
Respondeu-lhe:
— Para um lugar muito distante, que fica a mais de 
vinte dias 
de caminhada por esta estrada.
O viajante aconselhou-o:
— Este caminho é muito longo, conheço um atalho que vai 
encurtar
 bastante sua viagem.
O rapaz ficou contente e começou a seguir pelo atalho, 
quando se
 lembrou do primeiro conselho do seu patrão. Então, voltou e 
seguiu seu caminho. Dias depois, soube que aquilo era 
uma emboscada.
Após alguns dias de viagem, achou uma pensão na beira 
da
 estrada, onde se hospedou. De madrugada, acordou 
assustado
 com um grito estarrecedor. Levantou-se, rapidamente, 
sem
 saber de onde vinham os gritos e do que se tratava. 
Recordou-se
 do segundo conselho. Voltou, deitou-se e dormiu.
Ao amanhecer, o dono da hospedagem perguntou-lhe se 
não havia
 ouvido um grito e ele disse-lhe que sim.
O hospedeiro questionou-lhe:
— Não ficou curioso?
— Não!
O hospedeiro falou-lhe:
— É o único que vai sair vivo daqui, pois sou louco e grito
 durante a noite. Quando o hóspede sai, eu o mato.
E mostrou-lhe vários cadáveres.
O rapaz seguiu sua longa caminhada, ansioso por chegar 
a sua casa.
Depois de muitos dias e muitas noites de caminhada, já
 ao entardecer, viu, entre as árvores, a fumaça saindo da
 chaminé de sua casinha. Andou um pouco mais e logo notou,
 entre os arbustos, a silhueta da sua esposa. O dia estava 
escurecendo, mas viu que sua mulher não estava só. Andou 
mais um pouco e percebeu que havia um homem entre suas 
pernas, 
a quem estava acariciando os cabelos.
Ao presenciar aquela cena, seu coração derreteu-se de ódio e 
amargura e decidiu ir ao encontro dos dois para matá-los sem 
piedade. Respirou fundo e apressou os passos. Lembrou-se,
 então, do terceiro conselho. Parou, refletiu e resolveu dormir 
aquela noite ali mesmo.
No dia seguinte, tomaria uma decisão. Ao amanhecer, 
já com a cabeça fria, pensou:
— Não vou matar minha esposa e nem seu amante.
 Voltarei para meu patrão e lhe pedirei que me aceite de volta. 
Antes, quero dizer à minha mulher que fui fiel a ela.
Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando sua esposa apareceu,
 reconheceu o marido, atirou-se no seu pescoço e abraçou-o 
afetuosamente. Tentou afastá-la, mas não conseguiu. 
Com lágrimas nos olhos, disse-lhe:
— Fui-lhe fiel e você me traiu!
Ela, espantada, respondeu-lhe:
— Como?! Não o traí, muito pelo contrário. Esperei-o 
durante esses vinte anos!
Ele perguntou-lhe:
— E aquele homem a quem estava acariciando?
Ela disse-lhe:
— É nosso filho! Quando foi embora, descobri que estava
 grávida e,
 hoje, ele está com vinte anos de idade.
Então ele entrou, conheceu seu filho, abraçou-o e contou-lhes
 toda a sua história, enquanto a esposa preparava-lhes o café.
 Sentaram-se para tomá-lo e comeram o último pão.
 Após a oração de agradecimento e lágrimas de emoção, 
ele abriu o pão. Ao parti-lo, ali estava todo o seu dinheiro!

Um comentário:

  1. Amigo Éden de Paula:

    Durante os 13 anos em que participei do Programa de Rádio "A Voz da Caserna", na Rádio Cultura AM de São Borja, eu utilizei textos com mensagens de reflexão semelhantes a este. Mas confesso que essa história mexe com a emoção da gente. Um grande abraço e parabéns pelo Blog. Estou à disposição do amigo para mudarmos o Blog para um domínio .com. Atenciosamente, Marcelo Langoni. www.marcelolangoni.com

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